sábado, 2 de julho de 2011

Orixá Exú a pedra primordial da teologia Yorubá


ESU OTA ORISA
Esu a pedra fundamental do Orisa
ESU OFI OKUTA DIPO IO
Esu transforma o sal em pedra
1. "O PRINCIPIO ERA A PEDRA"
Em todos os momentos da vida dos afro-descendentes que cultuam Orisa, a
terra é o elemento mais importante a ser reverenciado e, em conseqüência
disso , a pedra, o fruto da condensação da terra, a desagregação particulada
e formadora do microcosmo Yoruba.
Essa singularidade pode ser vista na gênese Yoruba, amplamente documentada,
por diversos autores.
Olodunmarê após um tempo imemorial de inércia resolve criar o mundo, e sua
primeira criação é a pedra primordial chamada por ELE de Esu Yangi e ,
posteriormente, de Esu Obasin, cultuado até os dias de hoje
em Ile Ifé.
Pode-se dizer que sem pedra "Ota" não há Orisa.
KOSI OKUTA
KOSI ORISA
"Sem pedra
Sem Orisa"
KOSI ESU
KOSI ORISA
"Sem Esu
Sem Orisa"
Todo Orisa tem que, obrigatoriamente, ser assentado em uma pedra ou em algum
material que dela tenha vindo; exemplo: o ferro em que se assenta Ogun é a
transmutação da pedra, transformada em ferro por intermédio do fogo. Dessa
forma pode-se dizer que Ogun é assentado na pedra.
Outro aspecto interessante é que o corpo humano é composto de vários
elementos, e entre eles um dos mais importantes é o barro modelado por
Ajala, onde, posteriormente, é inserido por Obatala o Bara, o ESU do
movimento.
Outro aspecto de grande importância relacionado à terra é o Ikomojade
(imposição de nome ou batismo). Nele o pai pega a criança e coloca o pé dela
sobre a terra fofa, especialmente preparada para o momento, recitando o
seguinte verso de Ifa:
Yoruba
1. Ilé
2. A o gbe omo, ao fi ese omo naa te ile,
3. A o wa wure bayi pe,
4. Ile ree o,
5. Ile ogere,
6. Ile ni a nte ki a to te omi,
7. A ki nbinu ile ki a maa te,
8. Bi o ba nrin nile ki omo araye ma binu re,
9. A ki nbale sowo ki a padanu,
10. Gbogbo ohun ti o ba dawole lori,
11. Ile aye yi,
12. ko ni padanu.
Português
Terra
Os pais pegam a criança e colocam o pé dela sobre a terra, iniciando a
recitação. Eles chamam o nome da criança e falam:
1. (Nome da criança) Aqui está a terra,
2. A terra que está espalhada pelo universo,
3. É nela que se pisa primeiramente,
4. Antes de se pisar na água.
5. Ninguém que tenha ódio da terra,
6. Priva-se de pisar nela.
7. Quando você anda sobre a terra,
8. Os seres humanos não terão ódio de ti.
9. Todos que fazem negócios com a terra lucram com ela,
10. Tudo que você se propor a fazer na sua vida,
11. Não será em vão, você lucrara na vida.
Portanto, é muito claro que Esu foi criado por OLODUNMARÊ, da matéria
primordial e divina da qual, posteriormente, ELE fez todos os Orisa. A mesma
matéria que daria forma à toda existência divina, assim como toda a
humanidade que, um dia, Ikú "a Morte" devolverá à esta lama primordial.
Assim, Yangi é o primeiro ser criado da existência e passa a ser o símbolo
primal dos elementos criados.
Yangi é conhecido como "Esu Agba" , o Ancestral primordial, e seus
assentamentos mais antigos e tradicionais eram simples pedras de laterita
vermelha, colocadas no chão, onde eram feitas suas oferendas e sacrifícios.
Em alguns lugares, como a Orita Meta ou a Encruzilhada de Três caminhos, a
laterita vermelha está cercada por 7, 14 ou 21 pedaços de ferro
enferrujados.
Na cidade de Ile Ife, pode-se ver o assentamento de Esu Yangi como o
descrito acima.
Para se chegar a casa de OBATALA, entra-se em uma rua que vai exatamente até
a entrada, e acerca de 10 metros antes da entrada, a rua principal abre-se
em duas outras ruas laterais, formando um (Y) . No meio do vértice do (Y)
está a casa de OBATALA, e na ponta do vértice o assentamento de Yangi, uma
montículo de cimento armado com uma laterita fincada no alto. ** Colocar
Foto
Yangi é por excelência o símbolo da existência diferenciada e, em
conseqüência disso, o
elemento dinâmico que leva à propulsão, à mobilização, à transformação e ao
crescimento.
Ele é o principio dinâmico de tudo que existe e do que virá existir.
2. OS MÚLTIPLOS NOMES E FUNÇÕES DE ESU
Um mito relata como, em função de seu poder, Esu se descontrola, e começa a
devorar toda a preexistência, sendo então obrigado por Orunmila, após uma
longa perseguição, a vomitar tudo de volta.
Tendo sido cortado em milhares de pedaços, transforma-se no + 1, ou em 1
multiplicado pelo infinito. Neste caso, ele é Esu Okoto, o Caracol agulha,
cuja estrutura óssea espiralada parte de um ponto único, abrindo-se para o
infinito, e nos dá a idéia do crescimento, da evolução e da multiplicação,
tendo-se tornado o símbolo da restituição e da recomposição, tornando-se Oba
Baba Esu, Esu agbo, o Rei e o Pai de todos os Esu, gerados por seus pedaços.
Durante muitos anos conviveu-se com uma pretensa superioridade cultural,
racial, religiosa na África e na região dos Yoruba que provocou guerras
étnicas, fato que repercute ainda nos dias de hoje.
A suposta ação evangelizadora desarticulou sofisticadas estruturas
religiosas, imprimindo aspectos negativos e demoníacos à imagem de Esu que,
ainda hoje, habitam o universo religioso e pratico dos mais renomados
Baba/Iya.
A perda dos valores primais africanos foi causada, sobretudo, pela
escravidão, e posteriormente pela miscigenação com as seitas espiritas
cristãs, permitindo assim que os mais sérios seguidores do Orisa ressaltem
os aspectos negativos dos demônios, referindo-se a Esu como:
Exu Lucifer, Exu Tranca Rua das Almas, Exu sete poeiras do inferno, Exu Rei
das sete encruzilhadas, ou mudam seu sexo , Exu Pomba Gira ou Exu Maria
Padilha.
Os nomes e atributos deste importante Orisa do panteão Yoruba não permitem
interpretações errôneas como as perpetuadas pela inércia e ignorância de
pseudos experts em cultura Yoruba.
Nomes
Atributos
ESU YANGI
O primeiro da criação, a laterita vermelha
ESU AGBA
Aquele que é o ancestral
ESU IGBA KETA
O dono da cabaça, o igba odu
ESU OKOTO
O dono da evolução, o caracol
ESU OBASIN
O pai de todos os Esu
ESU ODARA
O Esu da felicidade
ESU OJISE EBO
O Esu que leva as mensagens ao orisa
ESU ELERU
O Esu que leva o carrego dos iniciados
ESU ENUGBARIJO
O Esu que trás a prosperidade
ESU ELEGBARA
O Esu que detém o poder da transmutação
ESU BARA
O Esu dono do movimento do corpo humano
ESU OLONAN
O dono de todos os caminhos
ESU OLOBÉ
O dono da faca ritual
ESU ELEBÓ
O Esu que recebe as oferendas
ESU ODUSO
O Esu que vigia os oráculos
ESU ELEPO
O Esu do azeite de dendê
ESU INA
O Esu do fogo ( saudado no ipade )
Poderia-se fazer uma lista imensa dos nomes de Esu ancestrais cultuados no
Brasil e África, mas esse exercício é desnecessário no momento.
O mais importante é destacar as funções desses Esu ancestrais nos rituais:
Esu Yangi:
É o princípio de tudo, a própria memória de Olodunmarê, seu criador.
Esu Agba ou Esu Agbo:
É o nome que mostra sua ancianidade; ele é o mais velho e, por conseqüência,
o pai que é retratado no mito em que Orunmila o persegue através dos nove
Orun.
Esu igba keta
É o terceiro aspecto mais importante de Esu que está ligado ao número três,
a terceira cabaça onde ele é representado pela figura de barro junto aos
elementos da criação.
Esu ikorita meta:
É ligado ao encontro dos caminhos ou a encruzilhada; o encontro de três ruas
( Y ).
Esu Okoto:
É o representado pelo caracol agulha, mostra a evolução de tudo que existe
sobre a terra,
e está ligado ao Orisa Aje Saluga, o antigo Orisa da riqueza dos Yoruba.
Esu Obasin:
É por este nome é conhecido e cultuado em Ile Ifé.
Esu Odara:
É o que, se satisfeito através do sacrificio, traz a felicidade ao
sacrificante.
Esu Ojisé ébó:
É ele que observa todos os sacrifícios rituais e recomenda sua aceitação,
levando as súplicas a Olodunmarê.
Esu Eleru:
É o que leva os carregos dos iniciados (Erupin)
Esu Enugbarijo:
É o que devolve a todos o sacrificio em forma de benefícios.
Esu Elegbara:
É o todo poderoso que transforma o mal em bem, cujo poder reside na
transformação das coisas.
Esu Bara:
É um dos mais importantes aspectos de Esu, pois ele é o Esu do movimento do
corpo humano, infundido no corpo pré-hunamo, ainda no Orun por Obatala,
sendo "assentado" no momento da iniciação, junto com o Ori e o Orisa
individual.
Esu Lonã:
É o senhor de todos os caminhos do mundo.
Esu Olobé:
É dono do obé (faca), tem que reverenciado ao começar todos os sacrifícios,
onde a faca é necessária.
Esu Élébó:
É o carregador de todos os Ébo.
Esu Odusô ou Olodu:
É ele que tem seu rosto retratado no Opon Ifa, e vigia o Babalawo para que
este não minta; é o que vigia os oráculos ( Opélé-Ikin-Erindilogun )
Esu Elepo:
É ele que recebe o sacrificio do azeite de dendê.
Esu Inã:
É um dos aspectos mais importantes deste Esu primordial, é presidir o Ipade,
sendo o dono do fogo.
É a Esu Inã que os Babalorisa/Iyalorisa se dirigem no começo do Ipade, uma
das mais importantes cerimônias do ritual afro-descendente religioso:
E Inã mojuba
Inã Inã Mojuba Aiye
Inã mojuba
Inã Inã Mojuba Aiye…etc.
Outra forma de se dirigir a Esu, e que causa certa confusão, é quando seus
acólitos a ele se dirige por seus EPITETOS que , por serem mais comuns,
transformaram-se erroneamente em nomes:
Exemplo;
Esu Tiriri
Esu Akesan
Esu Lode
Esu Barabo
Esu Alaketu
Esu Ijelu
Esu Bara lajiki
Esu Marabo…etc.
DA PEDRA A PEDRA
A ação repressiva dos cristãos europeus e, posteriormente, latino-americanos
sobre os africanos, escravos e seus descendentes forjou o sincretismo entre
os Orisa e os Santos Católicos.
Consequentemente, Esu e o diabo cristão na sua forma mais primitiva,
teologicamente.
Assim sendo, a idéia de um Esu reelaborado pelos cristãos e, essencialmente
maléfico e tenebroso, é inconcebível na Teologia e na cosmovisão Yoruba, que
não tem um “inferno´´ declarado, e os homens não são punidos a post mortem.
Muito embora, existam lendas e mitos populares onde Esu é retratado como
manhoso, trapaceiro ou encrenqueiro.
Se Esu for reverenciado com o Ebo designado nada disso será verdadeiro e a
sua suposta imagem de
malignidade, decorrente dessas lendas, cairá por terra.
Na verdade, Esu é o Executor Divino, punindo aqueles que descumprem o
sacrificio prescrito, recompensando aqueles que o fazem.
Ele nada faz por conta própria. Está sempre servindo de elemento de ligação
entre OLORUN e Orunmila ou então servindo aos Orisa.
Segundo a Teologia Yoruba, nenhum ser divino pode punir um Ara aiye "ser da
terra", diretamente, sem a consulta a Olodunmarê.
Diversos Itan Ifa nos dão conta que Esu também é encarregado por OLORUN para
vigiar os Orisa no Aiye. Isso só pode ser feito porque ele é imparcial no
seu papel de Executor Divino.
É por isso que todos os devotos de todos os Orisa sacrificam para Esu, por
recomendação de
Ifa, nos tempos de dificuldades, buscando dessa forma sua intermediação com
Olodunmarê.
E, para que os Babalawo não se excedam ou mintam na prescrição dos ébó, o
próprio Esu na qualidade de
Odusó sempre estará presente no jogo, cuidando para que o Iwa "caráter" do
consulente e do Babalawo não sejam maculados.
Esu reporta-se diretamente a OLORUN e mantém um inter-relacionamento com os
Orisa e com os Egungun "ancestrais".
Ele não é vingativo e nada executa por sua própria conta, apenas cumpre
fielmente as ordens de OLORUN, conforme os ditames do Iwa contido no Ori
individual, destino escolhido por cada Ori no Ipori Orun “Lugar em que o
ser humano é preparado´´.
E necessário, o mais depressa possível, esquecer, "desumbandizar" e
"deskardekizar" as religiões de matriz africanas, pois não se pode viver com
o paradigma de bem e mal, inexistente nessas religiões.
Em síntese, transmutar, teologicamente, a pedra primordial em pedra angular
sobre a qual se sustenta a cosmografia tradicional Yoruba.

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